LINCHAMENTO É COVARDIA (2)
O
sociólogo José de Souza Martins, autor de Linchamentos – A Justiça Popular no Brasil, calcula que, nos últimos sessenta anos,
entre 1 milhão e 1,5 milhão de brasileiros participaram de um linchamento ou
tentativa de linchamento. É um sintoma de desagregação social, mas não é só
coisa de desordeiros. Também envolve gente que está numa busca desesperada por
ordem e segurança, gente que está exausta com a incompetência do poder e das
instituições para garantir a paz social.
Essas pessoas lincham para punir o criminoso, para
vingar-se. As pesquisas mostram que, em geral, os linchamentos duram de cinco a
vinte minutos, contam com mais de 200 pessoas, ocorrem em lugares abertos, nas
grandes cidades, e as vítimas são homens. No bairro em que já houve um
linchamento, é mais provável que haja outro, como se a consciência social
daquela comunidade estivesse rompida.
Um ano depois do linchamento de Fabiane, A Tribuna, que circula no Guarujá,
noticiou que as redes sociais difundiam novo boato sobre um casal de
sequestradores em São Vicente, no litoral paulista. O jornal dizia que era só
boato. A Testemunha A recebeu e-mail de um amigo. Dizia: “ Está começando tudo
de novo”.
A Testemunha A não foi indiciada. Fechou a página do Guarujá
Alerta, perdeu o emprego, escondeu-se com medo de agressões, até mudou de
cidade por um tempo, mas voltou para o Guarujá.
Conta que um dia viu Jaílson, o viúvo, na fila de uma casa
lotérica, mas não falou com ele. Hoje, sua rotina voltou a incluir o mundo
digital. “Mexo nas redes sociais normalmente.” Jaílson, que há quatro anos doou
seu computador a um centro espírita, está novamente conectado. “Mandei montar
um computador, porque sai mais barato”, disse. Como monitor, usa sua TV de 32
polegadas. O advogado Airton Sinto sugeriu ao deputado federal Ricardo Izar que
apresentasse um projeto criminalizando quem difunde boatos na internet. O
projeto está em tramitação. A rua onde mora a mãe de Fabiane, em Morrinhos,
chamava-se Travessa 222.
Por iniciativa de um vereador amigo da família, chama-se
agora “Rua Fabiane Maria de Jesus”. A bicicleta que Fabiane usava quando foi
linchada nunca mais apareceu. Jornalista
Léo.
(LM
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10-02-16)
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