ABORTO EM TEMPOS DE ZIKA
Tratado sempre na surdinha, o
aborto saiu de trás da porta. A possível relação entre o zika vírus e a microcefalia trouxe o debate para as páginas dos
jornais, ainda que esteja longe de ocupar o centro a sala de estar.
Com a epidemia de zika avançando em diversos países, a ONU
defendeu o direito ao aborto em caso de infecção de gestantes. Manchetes como
“Homens abandonam mães de bebês com microcefalia”.
“O aborto é sempre tratado em termos
espetaculosos, quase como se estivéssemos falando de arrancar o bebe do útero
da mãe.
A pesquisadora considera importante
trazer o tema à tona. “Pode fazer renascer o debate nos termos da saúde
pública, do direito da mulher à sua dignidade e à sua integridade física e
emocional”.
Em meio ao ruído, um grupo de
advogados, acadêmicos e ativistas preparou uma ação a ser levada ao Supremo
Tribunal Federal (STF) solicitando a liberação do aborto em gestantes quem vêm
sendo associadas ao zika vírus.
Segundo a antropóloga Débora Diniz,
a ação pede a garantia de políticas amplas voltadas à proteção do direito ao
planejamento familiar, incluindo acesso à testagem de infecção por zika a todas as mulheres gestantes e, em
caso de resultado positivo, encaminhamento a pré-natal de alto risco, caso a
mulher deseje prosseguir com a gravidez, ou direito ao aborto legal, caso
deseje interromper.
“Não se trata de autorizar o aborto para
fetos com microcefalia”, disse em entrevista à Radis. “Nossa tese é que a
autorização para o aborto precisa ser garantida a partir da confirmação da
infecção, como um direito da mulher diante de uma grave epidemia não controlada
pelo Estado brasileiro”.
Ela acrescenta que a ação pleiteia ainda
políticas sociais que garantam assistência integral, às suas mães e famílias.
“Esse é um ponto do qual não abrimos mão”, reforça a pesquisadora, que esteve à
frente da ação em 2012 garantiu junto ao STF o aborto para casos de gestação de
anencéfalos.
Diante da polêmica, o presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), se pronunciou.
O cardeal arcebispo de São Paulo foi
mais radical: “Acho que se a humanidade se orientar por privilegiar somente os
que são saudáveis, fortes e poderosos, caminharemos para a eugenia”, termo que
se refere à seleção dos melhores indivíduos para continuar a espécie humana.
Para Débora, é cruel chamar de
eugênicas mulheres que nesse momento sofrem com uma gestação de riscos
imprevisíveis. “Nem todas optarão pelo aborto, e é certo que essas mulheres e
seus filhos devem ser cobertas por políticas focalizadas e sólidas para
garantir proteção social a uma vida boa”, disse.
Mas aquelas que não quiserem ou
puderem levar a gestação a termo, diante do sofrimento enfrentado, deve ser
garantido o direito de escolha pela interrupção”.
O Papa Francisco deu mais um passo à
frente das posições mais conservadoras da igreja católica. Em conversa com os
jornalistas, admitiu o uso de métodos contraceptivos em regiões afetas pelo zika vírus. Ele disse que “o aborto é um
crime”, mas que “evitar a gravidez não é um mal absoluto”, (A.C.P). Radis 162,
março/2016, pesquisa do Jornalista
Léo.
(LM
jornalistaleo@radiosentinela.com.br www.radiosentinela.com.br
13/042016)
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