quinta-feira, 17 de março de 2016



O ALÇAPÃO
     

Assim começa sua coluna diária na imprensa, a gaúcha Lya Luft. Seu artigo intitulado O Alçapão é exemplo que convém que mais cidadãos o conheçam.
            Anunciam-se mudanças, apresentam-se planos e projetos com dados irreais, num otimismo nada saudável porque populista e eleitoreiro, dirigido a um povo sem muita noção da catástrofe que se aproxima.
            Líderes e governantes deveriam representar-nos: muitas vezes nós os escolhemos inconscientes da seriedade absoluta de cada voto. Eis o sublíde de “O Alçapão” da escritora, e jornalista e professora Lya Luft. Continua:
            Agora, menciono mais uma vez, com profunda tristeza, a tragédia de nossa educação, saneamento, saúde, infraestrutura. Comigo estão milhares de brasileiros pensantes, centenas de jornalistas bem informados e honrados.
            Porém as lideranças em cargos de governo e mando, que deveriam ser nosso exemplo, parecem desinteressadas dos fatos dramáticos que nos atordoam: pronunciam frases otimistas e irreais, prometem forças-tarefa fadadas ao fracasso, e acusam outras nações dos nossos problemas. “Foi ele, professora”, dizem os moleques na escola. “Foram os estrangeiros, meu eleitor”, dizem nossos representantes!
            Na realidade, chegamos ao fundo do poço, ou quase. Ao peso de uma corrupção nunca vista – envolvendo nomes importantíssimos, empresários, políticos, até vários membros do Congresso sob investigação -, a grande nau foi desviada de qualquer rota sensata e enterrou a quilha na lama do intérprete de águas muito turvas. Os que deveriam ter impedido isso portam-se como se comemorassem vitórias numa regata fácil. No fundo desse poço de lama, comenta-se, pode existir um alçapão, e deve ser por aí: não chegamos ao fim de derrota.
            Podemos ser ainda mais explorados, enganados, roubados, pois restam um pouco de feijão e arroz no prato, água para um banho rápido, e luz, quem sabe, para a geladeira. Ainda estamos podendo reduzir a lista de alimentos no supermercado, e rolar algumas dívidas para as quais fomos empurrados pelas sugestões de líderes: comprem, comprem, comprem.
            Não nos contam direito que, com impostos e inflação em alta, empregos em queda vertiginosa e economia caótica, pagamos uma conta que não é nossa, nem se originou no exterior, mas em desmandos aqui mesmo. No momento, temos mais de 10 milhões de desempregados.
            Como reagir sem que a violência – que tanto receio – irrompa quando a paciência acabar, a fome das crianças cortar nosso coração, com os velhos morrendo na escada do posto de saúde, os jovens sendo chacinados nas esquinas (porque segurança também não temos, a droga impera, e os desempregados podem ser presa fácil dos traficantes)? Numa democracia real, a gente reage pelo voto, com protestos civilizados, sem mascarados que desvirtuem o movimento destruindo bens públicos e provados. E aqui?
            De alguma forma, unindo forças lúcidas e justas, temos de impedir que o país caia nesse alçapão: se ele nos engolir, a luta por democracia e progresso terá fracassado.
            Acumulam-se denúncias gravíssimas de quantias desviadas que construiriam hospitais e escolas, estradas e fábricas. Projetos abstratos e imexíveis, em que ninguém acredita, morrem na casca.
            Precisa-se, urgente, banir a tirania da obsessão pelo poder, do descaso e da incompetência – ou naufragaremos nas profundezas terríveis a exemplo do Titanic em 1812, ao dar de encontro com uma rocha submersa. Jornalista Léo. (LM jornalistaleo@radiosentinela.com.br  www.radiosentinela.com.br 16-03-16)

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