GETÚLIO DORNELES VARGAS
Após a renúncia o suicídio
O
tom trágico se impõe no lembrar fim de “agosto”
A notícia de que Getúlio atirou no próprio
coração após reunir-se com seus ministros no Palácio do Catete provoca comoção
nacional, mudando a opinião pública de uma hora para outra.
De presidente odiado, Getúlio se transforma em herói e leva
às ruas milhares de pessoas que disputam um lugar na sede do governo para
despedir-se de seu mártir.
Os políticos que estavam prestes a abandonar o barco, como o
senador Vitor Freitas, do PSD, voltam aos microfones para homenagear pela
última vez a figura daquele que saiu da vida para entrar na história. Demagogia
se mistura a sentimentos autênticos!
Com metade do corpo para fora da cama, Getúlio sangra:
atirou contra o próprio peito com um Colt calibre 32. A morte foi instantânea.
A autópsia no corpo de Getúlio foi realizada ainda no Palácio do Catete. O
cadáver está sendo embalsamado para o transporte a São Borja (RS), local já
definido do sepultamento.
Carta-testamento
Logo após a descoberta do corpo, Lutero Vargas
encontrou a carta-testamento. Uma cópia já estava com João Goulart, o herdeiro
político escolhido pelo próprio Vargas. Como veio a público após um momento de
tamanha dramaticidade, o texto com certeza deverá ser lembrado por séculos. “Serenamente, dou o primeiro passo no
caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”, escreveu o
presidente. Neste primeiro dia sem Getúlio, é fácil concluir que sua memória
será cultuada por décadas. Séculos talvez.
Humildes
Rio, 24 (Rádio Press) – Além da carta deixada
sobre sua mesa de trabalho e em que o presidente se despedia do povo, foi
encontrado ao lado de seu corpo um bilhete com os dizeres:
“ À sanha dos meus inimigos deixo o legado de minha morte. Sinto não ter
podido fazer pelos humildes tudo o que desejava”.
Assim que soube da morte de Getúlio, o prefeito de
Joinville, Rolf Colin, inovou uma lei federal determinando o fechamento das
repartições públicas e a suspenção das atividades no comércio e indústria.
Em Florianópolis, o correspondente do jornal “A Hora”, de Porto Alegre, Salim Miguel,
30 anos, qualificou o gesto de Getúlio como a tentativa de evitar que grupos
ligados a Carlos Lacerda chegassem ao poder.
De Porto Alegre, Nelson Pedrini, 19 anos de idade, relata
assustado os tumultos ocorridos na capital gaúcha. “Acabei de ver um senhor apanhar apenas porque não quis tirar o chapéu
quando passou a estandarte de Getúlio”, diz o estudante de direito da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Conforme o relato do estudante de medicina Jaison Tupy
Barreto, 20 anos, catarinense residente no Rio de Janeiro, a manifestação nas
ruas da capital federal já pode ser considerada inesquecível.
“Assim que a Rádio
divulgou a morte, todos correram para o Palácio do Catete atrás de informações.
Eu fui junto, assim como no féretro até o aeroporto Santos Dumont, de onde o
corpo seria levado para o Sul”, relata Jaison. Com a morte de Getúlio, o
estudante de medicina, até então adversário do presidente, revisou
imediatamente seus conceitos. “Com a
tragédia, se esquece um pouco da ideologia”.
Como no restante do País, o suicídio de Vargas pegou Santa
Catarina de surpresa. “Todos ficaram
muito chocados. Ele tinha uma imagem muito boa entre eles”.
Com 22 anos de idade, o estudante de direito em
Florianópolis Paulo Macarini ainda se contorcia com as dores da derrota do seu
PTB no recém-criado município de Capinzal quando soube pela Rádio Nacional da
morte do líder maior do partido. Jornalista Léo.
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